28 de agosto de 2007

UMA GRANDE VOLTA DE BTT


UM BRAVO FEZ O CAMINHO FRANCÊS DE SANTIAGO DE COMPOSTELA

Chegada à Catederal de Santiago de Compostela - Zé Pais


Depois de muito tempo para que a ideia amadurecesse, lá se tomou a decisão de ir percorrer o caminho Francês de Santiago de Compostela. Partiram de Viseu dois colegas, o António e o José Pais ("Mimosas").
Partiram de carro até Mangualde para apanhar o Sud Express até Handaya, de Handaya o TGV até Bayonne e de Bayonne o regional para Saint-Jean-Pied-de-Port. uma noite e metade de um dia de viagem com a tralha às costas.


Tralha no Sud Express


O caminho Francês ou Real é extremamente conhecido e divulgado por essa Europa fora, inicia-se em Saint-Jean-Pied-de-Port em França. Uma pequena cidade com contornos mediavais e que mantém muitos dos seus monumentos, tendo como exlíbiris a Rue de la Cidadelle e a Cidadela.


Panorâmica de Saint-Jean-Pied-de-Port

A primeira etapa iniciou-se no dia 15 de Agosto às 7 h e 15 min. (Saint-Jean-Pied-de-Port - Laransoana) com uma distância de 65 km e desníveis vertiginosos. Tinhamos que subir os Pirinéus até à fronteira de França e Espanha - 19 km sem descanço - sempre no pedaleiro pequeno. Mas o esforço vale a pena, são paisagens deslumbrantes de verde e mais verde com imensos rebanhos de ovelhas e manadas de vacas e cavalos.


Paisagem dos Pirinéus


Paisagem dos Pirinéus

Puerto Ibaneta - Capela

Lá se fizeram as tremendas subidas dos Pirinéus e iniciou-se uma fabulosa descida até Roncesvales onde almoçámos e descansamos um pouco para de seguida seguir em direcção a Larrasoana onde chegámos por volta das 16 h e 30 min. com o sentido de dever cumprido e um grande empeno nas pernas.



Ponte Medieval em Larrasoana


Depois do descanso merecido, já estavamos prontos para a 2.ª etapa (Larrasoana - Estella, 92 km). Uma etapa bonita com um início muito técnico num troço ao lado do rio Arga, com escadas, single tracks e muita pedra e raízes de árvore. Um verdadeiro rebuçado para quem gosta de BTT, mas para quem transporta carga nos alforges não é muito agradável. Por fim chegámos a Pamplona.

Fachada del Ayuntamento

De Pamplona seguimos em direcção a Puente la Reina, onde interrompemos o percurso original a determinada altura por ser extremamente perigoso para os ciclistas (12 km) e seguimos pela estrada onde numa descida atingi 74,5 km/h (foi sempre a dar calor como diz o "Fininho"). Foi nesta localidade que pela primeira vez ouvimos falar português, dois brasileiros.

Ponte Medieval em Puente la Reina


De Puente la Reina seguimos para final da etapa, Estella. Um trajecto de puro btt com estradões muito rápidos e subidas e descidas muito técnicas com estradas romanas, pontes de madeira, muito cascalho e escadas. Lá conseguimos atingir o objectivo - Estella, onde pernoitamos num enorme albergue, que era um pavilhão desportivo.

Panorâmica de Villatuerta - povoação antes de Estella

Mais um dia se iniciava e mais um caminho para "bater" de Estella a Nájera numa distância de 80 km. Uma etapa dura com trilhos com grandes subidas e descidas muito técnicas inseridas numa paisagem agreste com uma vegetação baixa e algumas árvores. O tempo é que ajudava, manhãs frias e tardes não muito quentes. Passagem por duas cidades Viana e Logrono.



Panorâmica de Torres del Rio


Pormenor da Catederal de Logrono


Mais uma noite passava e uma manhã se iniciava e com ela mais uma etapa do nosso caminho Nájera - Atapuerca numa distância de 75 km. Um percurso fabuloso com uma diversidade paisagistica impressionante, desde a alta montanha até à planície. Desde o cultivo de cereais à vinha e floresta. Uma subida díficil até ao Pico Valbuena (1200 m) para depois desfrutar uma descida fabulosa até ao Mosteiro San Juan de Ortega e deste edifício até Atapuerca foi igualmente sempre a dar gás em estradões largos e com um piso liso.

Mosteiro de San Juan de Ortega


Mais uma noite bem dormida e uma alvorada às 6 h (5 h em Portugal) para cumprir a etapa Atapuerca - Frómista com cerca de 90 km. Um percurso acidentado até cerca de 15 km de Frómista com duas subidas muito duras mas muito bonitas. Passamos numa das cidades mais importantes do caminho - Burgos. Esta cidade tem um conjunto monumental considerável onde se destaca a imponente Catederal. Outra das terras com muitos monumentos foi Castrojeriz que depois dava ligação a Frómista, um povoado sem grandes motivos de interesse.
Catederal de Burgos


Castrojeriz - Colegiata e Castelo

Mais um albergue, mais uma rotina de final de tarde (tomar banho, lavar e estender a roupa, jantar e chichi-cama às 9 h e 30 min./10 h) para no dia seguinte se ter força para fazer uma etapa de 107 km de Frómista a Mansilla de las Mulas. E aqui não há nada a dizer, etapa sem dificuldades ao nível do desnível do terreno, no entanto, não há desanso, é sempre a dar ao crenque numa paisagem pouco apelativa de cultivo de cereais ou de regadio. Para evitar isto, muitos peregrinos fazem Burgos-Leon de autocarro. Só vale a pena pela monumentalidade da Cidade de León, local a rever com mais calma.


Casa em Reliegos


Palácio Gaudi em León

Catederal de León


Mais uma rotina, mais um dia a iniciar e com ele mais uma batalha de 75 km a ligar Mansilla de las Mulas à cidade de Astorga. Mais de metade da etapa praticamente igual à anterior, planície e mais planície (uma chatice), mas lá passou. Neste trajecto passamos em Leon - que bela cidade - um sítio a rever com um conjunto de monumentos fenomenal onde se destacam o Palácio Gaudi e a Catederal. Outra cidade que impressionou foi Astorga que para além dos monumentos possui costumes ao nível da doçaria.

Panorâmica de San Justo de la Vega

Catederal de Astorga


Palácio Gaudi em Astorga


Um albergue do melhor ao nível das instalações sanitárias e com máquina de lavar (acabou-se a escravidão e o sofrimento de lavar a roupa) recarregaram-se baterias com um belo jantar e com uns docinhos para no dia seguinte se estar preparado para a etapa Astorga-Cacabelos com aproximadamente 80 km. Um percurso mais a condizer com o nosso gosto, uma paisagem parecida com a de Viseu, com subidas e descidas para todos os gostos. Passagem por Rabanal del Camino e Ponferrada (terra monumental) para terminar em Cacabelos, uma terra simpática com bastantes motivos de interresse e um albergue fabuloso (o melhor do percurso).


Castelo de Ponferrada


Porta do albergue em Cacabelos

Mais um ritual, mais uma noite de descanso (com alguns roncadores a perturbarem o sono) para de manhã acordar e preparar uma etapa difícil, Cacabelos-Triacastela numa distância de 65 km. Etapa muito difícil com uma passagem por Villafranca del Bierzo onde foi possível ver um conjunto de monumentos e depois a saída da província de Castilla e León para entrar na Galícia com a dificílima ascenção a O Cebreiro. Uma subida a fazer lembrar os pirinéus com uma paisagem fabulosa. Na ligação do Cebreiro a Triacastela aconteceu o imprevisto - o suporte dos alforges do António partiu para pouco depois me partir um parafuso do meu. Mas como o azadar de uns é a sorte de outros, eu tinha aproveitado material do suporte do António e uma dessas peças era o parafuso. Foi um grande sofrimento chegar a Triacastela, mas lá se atingiu a meta.

Paisagem de O Cebreiro

Alto de San Roque - Estátua alusiva ao peregrino

Depois dum dia muito duro devido ao esforço de transportar os alforges sem suporte tivemos que reduzir a carga e enviar algumas coisas para casa através de encomenda. Por esse motivo só saímos de Tricastela às 9 h e 30 min.. A etapa a cumprir era Triacastela-Melide numa distância de 92 km. Dirigimo-nos a Sarria por estrada para que o percurso fosse mais leve para o António que tinha de transportar o arforge às costas. Quando iamos no percurso apareceram uns nostros ermanos que ajudaram no transporte. E que grande ajuda mesmo até à porta da loja de Bikes para comprar um novo suporte. Solucionado o problema lá nos dirigimos a Portomarin onde almoçamos.


Na loja com os nossos amigos espanhóis, da esq. para a dir. - Santiago, Paco, António, Zé Pais e José.

Portomarin - escadaria da Capilla de las Nieves



Para desgastar o almoço uma grande trepa logo a seguir a Portomarin e depois um sobe e desce inserido num tipo de paisagem muito idêntica ao nosso Portugal, já nos sentiamos em casa. A chegar a Melide um problema - o albergue estava cheio. Há que descobrir outras soluções e de entre elas dormir numa pensão para se poder descansar.

Igreja em Melide

Chegou o dia tão esperado, a ansiedade era grande e pela frente 56 km para precorrer entre Melide e Santiago de Compostela. Um pequeno almoço do melhor que há e lá fomos para a última epopeia cheios de força e fé em chegar ao nosso destino. Passados 50 km já viamos a nossa meta do alto do Monte do Gozo e depois foi descer e ir de encontro à monumental Catederal onde jaz o Santiago. Cumprimos o ritual - entrar na catederal e ir abraçar a imagem de Santiago. Depois dirigimo-nos para a Oficina de la Peregrinación para obter a Compostella (diploma da peregrinação).

Ponte entre Melide e Ribadiso


Estátua no Monte do Gozo

A praça em frente à catederal estava repleta de gente e o nosso fotógrafo era português, que grande coincidência. É obrigatória uma visita aos diversos monumentos desta grande cidade. Depois foi o regresso de carro até casa onde tudo nos parece uma perfeição, é o retorno ao conforto e à boa comida e claro sofá e TV.

Chegada à Catederal de Santiago de Compostela

Não queria terminar sem agradeçer em primeiro lugar à minha família (Anabela, João e Rita) pelo apoio e por terem sido sujeitos a uma ausência prolongada, foi dura a saudade e a falta do amor diário da mulher e filhos. A eles dedico este meu esforço e conquista.

Finalmente com a família

Agradecer igualmente aos meus pais e amigos pelo apoio e carinho demonstrado pelos imensos telefonemas ao longo da viagem. Um agradecimento especial ao Paulo Correia "Fininho" por me ter emprestado a sua "Burra", "animal" que finalmente conheceu um montador à altura.

A "ginga" do Paulo que se portou 5 estrelas

E como os últimos não são menos importantes que os primeiros um agradecimento enorme ao António que conseguiu aturar este velho gerreiro com mau feitio. Foi sem dúvida um bom companheiro e amigo de viagem que proporcionou bons momentos de convívio e uma jornada que ficará marcada nas nossas vidas. O meu sincero obrigado com votos de que continues a pedalar. E não te esqueças que ATÉ T'ABANO.





A Compostela - Diploma que comprova a peregrinação

Curiosidades:
Km percorridos - 877.03
Tempo de pedaladas - 68 h e 59 min. (se soubesse pedalava mais um minuto)
Velocidade média - 13.27 Km/h
Velocidade máxima - 74.5 Km/h

2 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Ah G'anda Zé !!!!!
Para o ano eu acompanho-te até à estação de Mangualde....... para te desejar boa viagem, eh,eh,eh,...
Gostei da reportagem ( muito trabalho de pedal e de esferográfica , especialmente de ver a nossa camisola em Santiago.
Parabéns pelo feito e um abraço do Tamagoshi